sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Assustado? Preparado!

Com o tempo, crescendo deixe de ser um simples menino assustado, que grita e esperneia da mãe falar bu! enquanto eu brincava com bloquinhos de madeira para construir pequenas cidades, pintados de verde, vermelho e azul. Fui me tornando um jovem pouco mais seguro quanto ser atacado por bestas de outro plano, fantasma ou monstro. Fato que ainda levo sustos, talvez até com a mesma freqüência ou facilidade, mas ser atacado não é algo que parece ser possível. Levo susto me preparo sempre a me defender. No dia que for uma besta de outro plano, fantasma de verdade sei que não terei chances mesmo, ao menos com quem me assustou... a história muda um pouco, mesmo não sendo forte, ainda tenho chances. Não sou destes de agredir. Acho que peguei este hábito com meu pai que vivia dizendo "quase te esmurrei piá!" ou "da próxima vez eu vou chutar você seu monte de carne e osso." e variantes. A mania de dar sustos herdei da minha mãe, aquela vigarista sádica, deu um irmão mais novo e sumiu or aí, talvez virado alguma das namoradas do Manuel Bandeira das visitas dele à Pasárgada. Sou de oito anos mais velho que meu irmão de apenas 10. Ele talvez por algum fato genético (não entendo destas coisas) é muito assustado, mas o gosto de dar sustos cada vez é mais aumentado. Estas crianças e suas vontades sempre tão grandes para quase nada de gente ainda.

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Dormir. Faz tempo que não faço direito, noite a noite acordo, preciso mijar, fazer uma boquinha, as vezes até tomar banho 3 da manhã dá vontade e esqueço o verbo que acalenta minhas noites de solitude ou substantivos como sono, cama, travesseiro, até soneca não faz parte das minhas palavras nas horas de noite. Ultimamente é mais comum eu acordar e comer um pão que amanhecendo não está nem duro nem macio, uso um pouco do forno e dou de comer à minha boca e às entranhas por conseguinte. Remoendo em 15 bolas de comida de 12 círculos de mastigar e enrolar na língua, engulo e encho um pouco a goela que esvazia, enchendo o estômago e todo o resto do esquema que aprendemos no colégio e coisas assim, nem lembro quando vi, mas da terceira série sei que isto vai virar cocô, ou seria da segunda série? Vida escolar, ela só existe por foça dos outros a minha volta, por mim a oitava era o limite, mas seguindo acho que o segundo ano que é. Este meus anos de dormir "errado" vem me matando de pouco em pouco, eu era magro e cada dia que passo acho que seco mais. Sempre pensei que dormir após comer engordava. 

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De acordar as vezes às duas da manhã que eu vejo meu irmão novo ainda acordado. Pobrezinho, vai acabar indo bem nos estudos como eu estou indo nestes dois últimos anos, papai não dá mais conta, se mata a encher a cara e trabalhar. Ainda acho incrível que ele consiga sustentar a gente, eu e meu irmão, bebendo tanto. Acho que se eu bebesse tudo isto já estava em coma, mas álcool desde meus 15 sempre me embrulhou o estômago, não sei se por sorte ou por azar de ter de ver a vida como ela não deveria ser. Ruim é saber que não tem como internar o velho, gosto tanto dele, queria ajudar, mas como vou me manter na vadiagem? Vou ter de trabalhar. Nem sei porque papai continua bebendo e nem ligando para nós. Ou liga e não percebemos. As vezes mesmo no azar temos a sorte dele chegar em casa e dormir. Até meu irmão ainda se questiona se é certo alguém como nosso pai em um emprego como engenheiro em um empreiteira, tem tanta gente com a mesma (ou melhor) qualificação. Ao que consta do meu avô, que morreu dois anos atrás, meu pai foi dedicado, saiu da pobreza através dos estudos, as vezes (só as vezes) penso que voltarei para ela quando ele se for.

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Outra madrugada (nem é mais novidade, ainda vou me acostumar a dormir 4 horas por dia) que a noite vem atormentar minha fome. Tem um pouco de macarrão e molho pronto, o que torna comer mais fácil; basta 1 minutos de microondas e tudo se resolve em garfadas depois do tempo passado no carrossel mágico do esquentador de comida dos céus. Hoje a noite parece mais fresca, vem nela um perfume diferente. Ah! o perfume de Gabriela. Mas também quais minhas chances? Sou burro, preguiçoso e não sou o senhor simpatia. Ela tão linda a desfilar na minha retina, memórias e pelo colégio com aquela amiga baixinha dela, Rebeca. Sempre que eu penso em uma garota tempo demais sei que estou perdido, nem aquelas 4 horas de sono eu consigo ter. Inevitável também pensar em como será meu irmão quando for mais velho? O mesmo fiasco do irmão mais velhos com mulheres, muito provavelmente. Cada bipe do carrossel da comida me dá uma nova salivação vindo à boca... e pronto! Comida quentinha saindo do portal mágico do calor. Pego os talheres na gaveta e saio da cozinha e comer em silêncio na mesa. Só agora percebo que o perfume da noite (o de Gabriela mesmo que longe) não me deixou perceber meu irmão, dormiu cedo. Acendo a luz pela virada da parede para alumiar a sala de jantar depois de deixar o prato no balcão e confesso nunca ter sentido um arrepio tão tenebroso em toda minha vida desde minhas primeiras memórias dos sustos de minha mãe. Sozinho acordado é a vez de encarar algo com que não tenho chances, ou ladrão a puxar minha mão direita. No ato reflexo com a faca espeto com minha força e velocidade de adrenalina injetada em todo o meu corpo a barriga deste desgraçado. A certeza da faca bem fincada me faz me trancar no banheiro com o grunhido, grito de terror e surpressa do meu quase agressor se não fosse o ato reflexo dos sustos que herdei de papai. Aquele grito esganiçado, agudo, de dor... ainda... 

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A memória da ambulância e o som jamais foram mais agudos em meus pensamentos do que as memórias construida em cima do grito de meu irmão. Só quando me dei conta do que fiz, depois de muito tempo, depois de quase... quase. O sangue, gritos entalados de desculpa, gritos de briga chovendo em mim. "Assassino, eu? Não é..." "é que..." "ele..." nada adiantou para afogar a ira de um gigante desperto, e até vejo o carinho que ele nos alimentou. Nem surra, nem soco, briga e porrada, só cheiro de conhaque exalando das entranhas. Vejo mesmo isto, quanto carinho em um homem que luta para fugir de alguma depressão e manter dois filhos vadios. Quanto amargo subiu em minha boca. Sangue! 

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Hoje não penso mais nas garotas, nem acho que meu irmão pensará nelas, ou garotos que sejam. Ninguém vai querer um caolho. Não acho que eu possa amar alguém tendo feito isto a alguém que amo. Alguém que não olha mais para mim, e mesmo que olhasse, não é isto que vai me acalentar. Não sei mais, acho que a vida está ruim mesmo para mim. Sempre quis levar um outro susto para rir agora com ele, abraçar. Mas assustar, ele nunca mais tentou. Sou uma pessoa ruim demais para minha vida. Vou melhorar com ela, com certeza!

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Tentei, espero que tenha ficado raozável. É um contozinho simpático, queria deixar mais detalhado, mas ninguém lê hoje em dia notícias simples, quem dirá um texto normal com linguagem lotada. Comentem, por favor! 

5 comentários:

Anônimo disse...

Nya... queria, um dia, escrever tão bem quanto você O.O

=*

Anônimo disse...

Ronald! Esta muito bonito e tocante, exatamente o tipo de conto que gosto de ler....

fiquei com muita pena do cara......argh que triste!!!!

beijos

KoToraChan disse...

Meio trágico o conto ._.
Consegue prender a antenção da gente, ainda mais eu q não sou de ler xD

Anônimo disse...

Showwww de bola primo.. Por um momento pensei que estava se referindo a si mesmo.. euiahiueahiauehue... mas dps entendi ;P

Mto bom.. mto bom mesmo!

Abração!!!

Emerson Nicolau Kulek disse...

Ainda estou sentindo na boca o gosto salgado e adocicado de sangue, a superfície leitosa e macia de um globo ocular pululando entre a gengiva e o céu da boca...bom, muito bom. Mas falta um pouco de cor, sugiro acrescentar mais víceras nos próximos.